Em São Paulo a luta contra o reajuste das tarifas de ônibus desencadeou um movimento de massas nas principais capitais do Brasil. Este movimento é apenas a ponta do iceberg de um sofrimento latente da classe trabalhadora, de estudantes e que pode vir a galvanizar parte das classes médias urbanas como consequência de uma inflação que atinge este segmento de forma diferenciada.
Parece ser constatação objetiva que estes segmentos sociais estão muitos sensíveis à convocação para manifestações, que pareciam adormecidas no Brasil, desde o advento do governo popular de Lula e Dilma em nosso país.
Muitas interpretações podem advir a partir do atendimento popular a esta chamada à mobilização, por parte dos usuários de ônibus, sejam eles trabalhadores ou estudantes, ou mesmo, contra a ineficácia e ineficiência do Estado nas esferas municipais e estaduais, no que concerne à oferta de serviços públicos básicos.
Assistência à saúde precária, incapacidade do aparato de segurança em responder à demandas de proteção preventiva e coercitiva à criminalidade, educação de país periférico, mobilidade urbana caótica, inflação persistente com efeito diferenciado para as classes médias e escândalos permanentes de corrupção parecem ser parte do combustível que vem colocando parte da sociedade brasileira em pé de guerra.
Neste contexto de lutas sociais emergentes, muitas interpretações sobre o alcance destas iniciativas populares, advém a mais anacrônica e destrutiva , são aquelas que interpretam de forma instrumental este belíssimo movimento. São as interpretações da velha esquerda do século XIX, que já sonham em transformar este movimento cidadão em ferramenta para os seus devaneios revolucionaristas.
Que cena mais deprimente foi observada no Rio de Janeiro, quando trezentas pessoas armadas de coquetéis molotov atacaram a Assembléia Legislativa, picharam o palácio imperial, ontem (17), enquanto, no entorno, a massa de cem mil pessoas, cercava estes desordeiros, e os desaprovava publicamente e pedia que estes “revolucionários de merda” parassem com aquele espetáculo que poderia por a perder este autêntico movimento, que poderá fazer os governantes brasileiros, nas esferas municipal, estadual e federal, se voltarem efetivamente para uma agenda social de emergência.
É preciso que os movimentos sociais que estão convocando estas manifestações, articulem imediatamente uma plataforma nacional capaz de unificar todo este movimento nacional e se dirija imediatamente aos governos federal, estaduais e municipais e proponha uma mesa de negociação com metas de curto e médio prazo.
Deste processo de mobilização social da sociedade brasileira deve emergir um fórum nacional, com ramificações estaduais e municipais, capaz de organizar e dirigir este movimento social de massas, sem preconceito com nenhuma organização política ou social, mas que mantenha distância de qualquer forma de aparelhamento partidário, impulsionando, potencializando e organizando politicamente este movimento social em nascimento no Brasil.