Qual o caráter do movimento que vem tomando conta das ruas do Brasil? Os governos  começam a acenar com a redução entre 5 e quinze centavos nas tarifas dos transportes urbanos.  Até parece que este povo está atrás de centavinhos, nestas jornadas juninas.

Me proponho a fazer um ensaio sobre a gênese deste movimento e do seu curso futuro. Creio que estamos diante de algo absolutamente novo nos movimentos sociais na América Latina e dentre os países emergentes.

É um movimento  que atende chamado, inicialmente,  dos movimentos  estudantis secundaristas e universitários, mas provém de comunicação virtual, ou seja, das redes sociais, sãos os facesbooks “chegando às praças”.

É um movimento, como disse o comandante da PM de São Paulo. “sem dono”, ou seja, é mais espontaneístas, do que controlado, a priori, por organizações tradicionais da sociedade civil. É um movimento que enxerga como extra-terrenos os grupelhos de esquerda que insistem em tentar conduzir o movimento para o confronto físico e para a depredação do patrimônio público.

É um movimento que rejeita a intromissão de partidos, políticos e de governos. É um movimento, que nascido no seio da juventude,  vem atraindo a população como um todo, entenda-se: assalariados, segmentos de classes médias, este movimento consegue neutralizar até a mídia conservadora , outrora, insensível aos movimentos de massas.

Creio que a psicologia política deve tentar entender este fenômeno de massas, pois acredito que a sociedade brasileira atingiu o “limiar de tolerância política”. Para onde vai este movimento? Não sei, mas certamente tem duas possibilidades imediatas: encerrar suas ações assim que o governo dê respostas às reivindicações imediatas, relacionadas ao preço de passagens em transporte coletivo, ou, começarmos a assistir alguma coisa absolutamente inédita no Brasil, qual seria:

Movimentos de massas, funcionando em ondas, aceitando convocação a partir das redes sociais virtuais, para temas  de grande interesse social, ou seja, seria o  nascimento efetivo  da era de aquários, no curso inicial do século XXI, que sinalizaria a presença de um século de mudanças, de punição de corruptos e de uma virada na qualidade dos serviços públicos para as massas.

Caso este movimento venha a se manter vivo e atuante, em escalas de milhões e, que  venha a exigir, sem trégua a melhorias dos serviços públicos em base municipal. Outros movimentos, necessariamente se seguirão, qual seja:

Prefeitos migrarão em direção aos governos dos estados e estes “cercarão” o governo federal em busca de uma reforma tributária de cunho federativo em dois sentidos: dos estados ricos em direção aos estados mais pobres e da União em direção aos municípios.

Esta é a solução democrática, para crise, no curto-médio prazo para que estas reformas estruturais  venham a ser executadas. Se, os cenários de manifestações em “ondas” vierem a acontecer no Brasil, não tenho dúvida, ou as elites governantes, à direita e à esquerda, se adiantam, e antecipam as decisões, ou, consequências imprevisíveis poderão advir, no campo da política. Não creio em soluções tradicionais ou comandadas pelos grupúsculos de esquerda. Poderia surgir um novo “salvador” da Pátria, pela direita,  a galvanizar as massas descrentes neste modelo de democracia. O que seria terrível.

Uma coisa parece líquida e certa: o sistema representativo brasileiro, baseado na lista aberta, faliu, 70% dos cidadãos  não sabem  em quais deputados votaram, dois anos após a realização dos pleitos parlamentares.

As câmaras de vereadores e assembleias legislativas, dependentes do orçamento do executivo, mais se esforçam em agradar o governante, do que representar os interesses da população.

No espaço municipal, os serviços públicos de saúde, educação, segurança não funcionam.  As delegacias de polícias não conseguem fazer boletins de ocorrências com celeridade.  Prefeitos e vereadores, a cada dia, são pegos em esquemas de corrupção.

 

Enfim: O limiar de tolerância popular aos governos, aos partidos, e aos políticos foi atingido. O que vem por aí? Creio que será a mobilização em tempo real, pelas redes virtuais, contra os desmandos dos governantes. Qual o alcance destas ações? Não sei, é algo totalmente inusitado para os padrões tradicionais das atividades políticas. Uma coisa eu sei: acabou o monopólio das atividades políticas pelas organizações tradicionais da sociedade do século XXI, que o digam a Líbia e a Síria.

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