Ontem, novamente a sociedade  brasileira saiu às ruas. Foram 700 mil no Rio, 100 mil em Recife. 20 mil em Belém. Todas as capitais e mais 60  cidades protestaram, em escalas de milhares, que somados chegaram a mais de dois milhões de pessoas.

Está claro que este movimento quer muito mais que a redução da tarifa de ônibus e a melhoria da mobilidade urbana.  O limiar de tolerância política chegou ao fim, em outras palavras: o caldo derramou.

Os jovens que descobriram a pólvora, ou  seja, chamaram a mobilização, não vêm mostrando capacidade de construir uma coordenação representativa de todos os segmentos que vêm atendendo ao chamado por mobilização: não existe uma plataforma nacional, estadual ou municipal, capaz de servir de base para as negociações com os governos.

Ontem, aqui em Belém, o prefeito de Belém se propôs a dialogar com  o comando da grande passeata, mas as divergências em torno de quem deveria conversar com o prefeito, evidenciou a ausência de um comando unificado. Os  convocadores dos atos, notoriamente,  gente de partidos,  disfarçados de apartidários, vêm hostilizando militantes das mais diversas organizações sociais e políticas, tentando se apropriar do movimento de massas, como se isso fosse possível.  O DNA daqueles que convocaram estes atos, aqui em Belém e no sudeste, não há dúvida: são trotskistas, em suas mais diversas facetas: gente séria, inocentes políticos, guerrilheiros, anarquistas, revolucionários e porra locas.

Os quebra-quebras, o lançamento de bombas incendiárias não ajudam em nada a ampliação e consolidação deste movimento cidadão. Pelo contrário: afastam os manifestantes, desmobilizam e constroem uma imagem supernegativa do movimento perante a opinião pública nacional e internacional. O que vem mantendo o apoio  ao movimento é o fato de que 99% dos manifestantes  virem renegando e isolando, no interior das mobilizações os grupos  de guerrilha urbana.

Eu já militei na extrema esquerda por quase dez anos de minha vida, á época da Ditadura e saí muitas vezes, nas greves gerais, para quebrar ônibus. Eu e meus camaradas acreditávamos que realizando a guerrilha urbana, poderíamos transformar as greves e passeatas em insurreições armadas. Era, anarco-sindicalista de como implantar uma revolução de massas.

Em 1988, um ano antes da queda do muro de Berlim, abandonei esta perspectiva idealista, ilusória, de como transformar uma sociedade de milhões. Antônio Gramsci, nos Cadernos dos Cárceres, já nos ensinava, entre 1926 e 1936, que cometera o mesmo erro na Itália, ao tentar transplantar a revolução bolchevista da Rússia para Turim.

Pois bem, estes grupos que ora, de forma vanguardista, entram nas manifestações, promovem o quebra-quebra, incendeiam veículos, acreditam piamente de que podem transformar mobilizações de massas em insurreições revolucionárias. Creio que eles acham neste momento que entramos em uma crise de regime no Brasil em direção à uma crise pré-revolucionária. Esta turma age, achando que está prestando um grande serviço à revolução socialista: eles acham que a violência é a parteira da história. É a velha esquerda, que com base na estatização da sociedade, da política e de todos os serviços públicos, poderiam mudar uma sociedade capitalista. Este modelo de sociedade e de Estado, conduziu à União Soviética a protagonizar a extinção da experiência socialista do Leste Europeu, entre 1945 e 1990.

Volto a insistir: é preciso que a sociedade civil e a sociedade política instalem um fórum capaz de produzir uma plataforma emergencial, de alcance nacional, capaz de aproveitar este momento político para negociar, com o governo federal,  uma agenda de  reformas estruturantes no Brasil, a exemplo do que expressei em postagem recente.

 

Tenho dito.

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