De antemão não posso trabalhar com a ideia de que Eduardo Campos vai abdicar da candidatura em favor de Marina Silva. Portanto vou produzir uma rápida análise trabalhando com a hipótese de que Marina apoiará Campos.

É fato, os vinte milhões de votos de Marina de 2014, em sua maioria, foram votos em oposição ao PT e à Dilma. É fato, Marina descobriu que o eleitorado progressista à esquerda foi totalmente ocupado pelo PT que vem demonstrando satisfação com a política social de Lula e Dilma.

É fato, Marina construiu um discurso do desenvolvimento sustentável em oposição ao desenvolvimentismo do PT. É fato, Marina produziu uma espécie de consenso supra classe sobre esta temática e como tal conseguiu reunir os ambientalistas à direita e à esquerda.

É fato, a Rede está com paradigmas de análise das competições eleitorais e partidárias que não levam em conta o modelo Sartoriano do espectro ideológico no contínuo esquerda-direita-centro. E com esta formulação está livre para cultivar um eleitorado mais conservador, sem perder  ponto de contato com setores mais sinceros do movimento ambientalista.

É fato, que o discurso ambientalista está prostituído, servindo tanto a Sirkis e Gabeira como a   Kátia Abreu e Eduardo Campos.

Quem herdará os votos de Marina na corrida presidencial? Não existe transferência automática de voto. O fato de Lula ter transferido votos a Dilma, em 2010, deve-se mais a um voto conservador do povo pobre em torno das políticas sociais, do que um voto ideológico ou político.

O maior indicador em termos da direção do eleitor órfão de Marina foi dado pelo segundo turno das eleições de 2010. Serra recebeu a maioria dos votos dados a Marina em primeiro turno. É de se esperar que as próximas pesquisas, sem Marina aparecendo como candidata, que haja um crescimento das intenções de votos para Aécio do PSDB.

Creio que Marina e a Rede cometeram um erro histórico em abdicar de uma candidatura presidencial. Marina, dominando, pragmaticamente, a direção do voto do eleitor brasileiro se situou em um centro político conservador.

Com propostas ambientalistas radicais atraiu partes das classe médias progressistas e com  um discurso de uma moral medieval atraiu parcelas do voto protestante. E a partir deste “ponto” de partida vinha obtendo belas intenções de votos.

O marketing pessoal de Marina  vai nesta direção. As vestes, o penteado e a ausência de embelezamento, não tenho dúvida, comunicam estilo de vida, valores e comportamento de uma verdadeira Gandhi de saia na política brasileira. E este comunicado semiótico  tem destino certo. Marina e a Rede, conscientes ou inconscientes transmitem esta imagem.

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