Inverteu-se o papel da mídia na greve estadual dos professores da SEDUC. Normalmente o movimento grevista ficava sitiado pela imprensa conservadora, que geralmente se posicionava ao lado de seu patrono, o governo estadual.
Nesta greve comandada pelo SINTEPP assisto pela primeira vez em trinta anos o apoio maciço de uma rede de rádio, jornal e TV, ou seja o grupo RBA e, ao mesmo tempo, todos os demais grupos midiáticos, como RECORD, LIBERAL E SBT, são premidos pela opinião pública favorável à greve, e passam a noticiar no cotidiano a versão do comando de greve. Diríamos que: de cada dez entrevistas sobre o movimento, oito são vozes do comando de greve ou favorável a este e duas vozes repassam a versão do governo. O governo para se comunicar tem de pagar notas informativas. Em síntese: um massacre midiático.
Para o comando de greve isto é ótimo, afinal, todos aqueles que fazem movimento reivindicatório sonham em ter o apoio da maioria da população e este inesperado apoio da grande mídia, sem dúvida, ajuda muito na busca dos objetivos. Porém chamo a atenção do comando de greve: aproveitem o momento, fechem o acordo e somem vitórias, ou, uma vitória em curso pode entrar em colapso.
Por que disse que é um apoio inesperado da maioria da mídia paraense? Porque estão iniciando o embate da sucessão governamental no Pará e, as elites governantes e não governantes começam a realizar uma batalha pela opinião pública. Creio que o comando de greve age com sabedoria em saber utilizar a conjuntura favorável à obtenção das reivindicações, mas, porém, todavia, deve avaliar com precisão o momento de consolidar as vitórias em curso. Lembram da tática do papudinho? que deixou o SINTEPP 90 dias em greve, sequer recebeu o comando de greve e matou a greve por inanição? Portanto, cuidado com o apetite voraz, que chega a parecer que está tripudiando do governo, que parece está prostrado, politicamente neste momento.
Nesta análise, percebo que o comando de greve surfa numa tsunami midiática. Não vejo intelectuais e nem políticos debatendo a justeza da reivindicação dos professores, mas também os limites do caixa do governo. Creio que o governo deve abrir o caixa à sociedade e demonstrar os limites para o atendimento de 100% daquilo que os grevistas exigem.
Nós sabemos que o papel do Estado, vai muito além de manter os serviços básicos da população como: saúde, educação, saneamento, segurança e assistência social. Cabe ao estado e ao seu operador, o governo, viabilizar infraestruturas capazes de gerar emprego e renda para produzir o equilíbrio e a ordem social, na capital e no interior do estado. Daí a necessidade que tem o governo de abrir este debate com a sociedade, abrir o caixa no limite dos gastos constitucionais com pessoal.
Parece que o jogo do poder é sempre irracional. A oposição acaba criando armadilhas indissolúveis para o caixa do governo. Amanhã, quando a elite não governante chegar ao poder executivo, encontrará um estado ingovernável. É só olharmos para o estado do Rio Grande do Sul, onde o governo está engessado, porque aquele estado jamais compatibilizou a relação entre recursos para investimento e gastos com pessoal e custeios.
Creio que na greve dos professores em curso, o sindicato joga xadrez e o governo joga dama. Creio que os governos precisam deixar de serem amadores nas estratégias políticas, abandonem a empiria e apostem na ciência. Nesta batalha, os trabalhadores da educação estão dando um banho, apoiados pela elite não governante e midiática.