O Partido dos Trabalhadores, a partir de seus estatutos subverteu o Estado de Natureza relacionado aos grandes partidos políticos no Brasil.  Nestas terras, os partidos políticos de conteúdos democrático-popular começaram, efetivamente, a ser construídos a partir da República de 1946. No período Imperial e da República Velha nossos partidos podem ser classificados como ferramentas políticas a serviço de  democracias oligárquicas.

Estudos recentes nos informam que o golpe de Estado de 1964 liquidou com a possibilidade de vertebração partidária da sociedade brasileira aos moldes das experiências europeias no período que vai do início do século XX até meados da década de 1970. Pesquisas utilizando os questionários usados pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública-IBOPE, no contexto da República de 1946 nos relatam de que a sociedade começava a ter referências em partidos como o Partido Social Democrático-PSD, Partido Trabalhista Brasileiro-PTB, União Democrática Nacional-UDN, Partido Social Progressista-PSP e Partido Comunista do Brasil-PCB, dentre outros.

Autores reconhecidos internacionalmente em ciência política como A.Downs, ao definirem partidos políticos como uma organização de cidadãos orientados para a captura de parcelas do Poder de estado através de eleições competitivas, entendem que é fundamental para melhorar a racionalidade na hora da tomada da decisão do voto que o Partido seja acima de tudo um atalho informacional.

Atalho informacional significaria que os partidos políticos, suas legendas, seu programa e suas práticas cotidianas serviriam de atalho informacional aos eleitores. Ou seja, pela legenda e pela prática política o eleitor seria capaz de relacionar legenda, candidatos e práticas políticas. Assim, no contexto das informações incompletas, os partidos políticos coerentes diminuiriam os custos da informação aos eleitores medianos.

No Brasil, a relação entre legenda partidária e eleitores  é ainda  mais complexa. Por estas bandas convivemos com voto proporcional de lista aberta que transforma  cada candidato em um micropartido, ou seja, os partidos perdem relevância e ganha centralidade  o candidato proporcional, seja ele aspirante da vereança ou da deputança. Aí emerge o pior dos mundos em matéria de tomada de decisão eleitoral  que é o voto personalizado combinado com o voto proporcional.

Pois bem, com o surgimento do atual ciclo democrático na sociedade brasileira, houve a enorme fragmentação partidária, predominância da criação de legendas auxiliares aos grandes grupos políticos estaduais, ampliando-se a dificuldade para que o eleitorado viesse a  se fixar organicamente à uma das dezenas de legendas partidárias que viriam a surgir no Brasil no contexto dos últimos 30 anos.

É neste contexto adverso à implantação orgânica na sociedade que emerge o  PT, oriundo das fábricas, do campesinato, do funcionalismo público e das comunidades eclesiais de base. O PT, ciente da despartidarização da sociedade brasileira aposta de forma vitoriosa em construir internamente uma nova cultura partidária no Brasil. Assim houve inicialmente rigidez nos critérios de recrutamentos de novos filiados, foi implantado mecanismo de controle partidário a partir dos núcleos de base, exigiu-se pré-convenções democráticas para tomadas de decisões importantes dentro do calendário das disputas eleitorais e políticas na sociedade.

Em poucos anos a sigla do PT se tornou maior do que a somatória de seus militantes. O PT trabalhou muito forte três marcas: defesa dos trabalhadores, ética na política e transparência na gestão dos órgãos públicos. E no curso de mais de 20 anos, o PT enraizou-se na percepção popular como um partido ético, da inclusão social e politização da sociedade a partir de sua ação nos movimentos sociais e por dentro do Estado.

Porém, o cipó que bate em Chico rimpa Francisco.  Este investimento poderoso no atalho informacional petista serviria para sua ascensão e possivelmente servirá para sua queda estratégica na sociedade brasileira, a partir das reformas econômicas em curso e do Petrolão. A poderosa marca, agora atingida por toda a grande mídia nacional e pelas redes sociais,  foi deslocada da esfera da ética e da transparência para  a esfera da corrupção e do estelionato polítco e eleitoral contaminando profundamente a marca PT. A ferramenta que foi sua marca inicial  que puxou o PT pra cima, agora o está arrastando para baixo.

Hoje, 30% da sociedade brasileira tem raiva do PT. Os segmentos mais escolarizados e bem remunerados chegam a rejeitar o PT em proporção de 90%.  Quem se vincular a legenda do PT, corre o risco de sobreviver residualmente nas grandes cidades do país em 2016 e 2018.  Podemos dizer que os petistas perderam a guerra da opinião pública e a população percebe a marca petista como  síntese da corrupção, do  estelionato eleitoral e de incoerência nas políticas econômicas em implantação.

Creio que o PT perdeu a aposta que fez  em sua estratégia eleitoral de 2014. O PT apostou que vencendo as eleições de 2014 poderia, a posteriori, dar um cavalo de pau liberal na economia, sofrer desgaste por 2 anos e no contexto da recuperação econômica viria a recuperar prestígio social, a exemplo do que ocorreu no episódio do mensalão de 2005 e, se habilitaria para eleger Lula em 2018.

Porém, os petistas não contavam com a estagnação ou crescimento modesto da economia mundial, especialmente na China, Rússia e União europeia.  Agravando todo o cenário internacional, houve o avanço da operação Lava-Jato  revelando denúncia de corrupção que atinge cifras de bilhões de reais. E o que é pior, instalou-se uma crise aguda de governabilidade com a eleição de um oposicionista para presidir a Câmara dos Deputados.

Agora o governo petista sangra cronicamente. O PMDB já percebe que o PT estará incapacitado politicamente para as disputas de 2016 nas grandes cidades e para 2018 na competição nacional. O PMDB como partido centrista e congressual começa a desenhar seu afastamento dúbio do governo.  O PMDB, à medida que acena ao PSDB e à oposição não pode perder as pastas ministeriais chaves do governo petista. Creio que o PMDB só deixará o barco governista, às vésperas das eleições de 2018.

O PT deve se preparar para ser um partido auxiliar na política brasileira. Sobreviverá nos estados e municípios, a partir de agora, com base na máquina governamental e financeira e apoiado em lideranças locais, o PT perdeu seu charme, que era sua marca inicial. Agora o PT será mais uma legenda dentre as 34 que habitam o universo partidário brasileiro. O PT pode voltar a crescer? Quem sabe, tudo é possível do ponto de vista probabilístico, mas considero muito difícil.  Creio que assistiremos uma revoada de políticos e lideranças dos movimentos sociais em direção aos partidos de esquerda e de centro.

Tenho Dito. Tomara que eu queime minha língua para o bem do PT.

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