A  democracia enquanto regime político sempre foi caminho sobre um fio de navalha.

O prof. Robert Dahl, notável cientista político americano, definiu alguns pressupostos que são decisivos para a manutenção deste regime por longos períodos de estabilidade. Dentre estes pressupostos temos: liberdades individuais e coletivas, imprensa livre, livre organização político-partidária,  sociedade majoritariamente de classe média como resultado de políticas redistributivistas.

Todo este arcabouço jurídico-político assenta-se num Estado de Direito Democrático,  com eleições livres e  uma legislação eleitoral imparcial e reguladas  por leis e normas construídas com a participação da sociedade através do congresso nacional.  No Brasil, este experimento está em implantação nos últimos 28 anos.  Nossa cultura política é autoritária, fruto de  quase dois séculos de governos oligarcas ou ditatoriais. Na verdade tivemos dois períodos  democráticos, 1946-1964  e de 1988 até os dias atuais, desconsidero a breve  República de 1934.

O Brasil vive uma paralisia decisória  desde janeiro de 2015, portanto 13 meses.   Esta paralisia detonada pela operação Lava Jato, que revelou o maior escândalo de corrupção do Brasil, como síntese da simbiose patrimonialista entre sistema político, tecnocracia estatal e parte do  mundo empresarial.

No contexto de envolvimento de altos executivos da Petrobrás, de dirigentes e políticos de Partidos  importantes no governo federal como o PT,  PMDB e PP,  foi deflagrado uma luta política sem precedentes na história recente do Brasil.  A oposição, buscando afastar a presidente da república do cargo, promove a luta política incessante e transforma a batalha moral como centro de sua ação política.

Com a evolução das investigações baseadas nas delações premiadas, emergiram novos atores na cena da corrupção, partidos e políticos do PSDB, DEM. Hoje podemos dizer a partir das delações premiadas que alguns dos maiores e mais importantes partidos do sistema político brasileiro estão completamente envolvidos nos escândalos de corrupção externalizados pela operação Lava Jato.

No contexto da operação Lava Jato aparece o trabalho diário das mídias tradicionais e virtual que transformaram este dia a dia dos últimos 13 meses em assunto principal. Seja nos grandes jornais e televisões seja nas redes sociais estamos assistindo uma batalha, entre situação e oposição do governo federal,  em batalhas sectarizadas: cada um prova, a cada dia, que todos são ladrões e corruptos. E o que é pior, parece que todos estão certos....pelo menos é assim que percebe o grande público, é como se numa noite escura todos os gatos fossem  pardos.

No rastro da paralisia política, a economia brasileira está em ladeira abaixo. Instituições internacionais de avaliação da taxa de risco descredenciam o Brasil a cada mês, o investidor internacional se contrai, o consumidor nacional deixa de comprar e diminui as atividades comerciais e por tabela, diminui a produção industrial e como resultado temos  o crescente desemprego e empobrecimento da sociedade. Enfim, vivemos um círculo vicioso continuado.

Neste momento, a atividade política, os partidos, o congresso e o governo, são alvos de grande rejeição popular. Parece que todos os grandes atores da sociedade brasileira, como partidos, políticos, imprensa, movimentos sociais, perderam a cabeça. Nínguém está observando que o povão está com nojo da política, dos políticos, do congresso e dos governos. Até onde vai esta conjuntura? como fica a crença democrática?

Qual a instituição que deve chamar as lideranças políticas e as lideranças da sociedade civil para a racionalidade democrática estratégica?  Como aprovar uma agenda que aponte para a finalização deste ciclo de paralisia decisória? Estamos numa sinuca de bico...ninguém se arrisca a se "queimar" com a sociedade para propor um pacto institucional capaz de garantir a penalização de corruptos e corruptores e apontar condições políticas e sociais para encerrar a paralisia decisória.

Neste momento, o sistema político emite terríveis sinais à sociedade brasileira a partir da sobrevivência política do presidente da câmara dos deputados, Eduardo Cunha. Parece que o congresso nacional está refém deste político. O supremo Tribunal Federal  atua mais como incendiário do que como mediador do conflito. Muitos ministros do STF e procuradores  fazem pronunciamentos políticos que parecem estarem "jogando" para os flashes e câmeras de TV.

Pelos cálculos mais pessimistas, caso a operação Lava Jato se ramifique para ministérios e outras estatais, podemos pensar em pelo menos mais alguns anos de duração desta investigação. O que sobrará da economia, da sociedade e da democracia brasileira? O espetáculo continua, os "tubarões" acusados de corrupção ficam uma temporada na cadeia e logo em seguida são liberados a partir da permissividade do código de processo brasileiro, desmoralizando a Polícia Federal, o Ministério Público e as demais instituições judiciárias. Enquanto isso  este show espetaculoso e midiático caminha indefinidamente.

Qual o fôlego de nossa jovem democracia?

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