Desde a República café com leite inaugurada em 1898 por Campos Sales até a República de 1988, o que marca o sistema político brasileiro é o governismo parlamentar. A questão é simples: existe uma dependência estrutural-tributária do poder local ao poder central e do poder legislativo ao poder executivo.
Este foi o desenho institucional que permitiu o funcionamento do Estado e dentro do Estado do seu sistema política. O funcionamento do Estado brasileiro é resultado de pura engenharia institucional.
O problema é que este modelo começa a se esgotar. O incrível distanciamento dos representantes parlamentares de suas bases eleitorais, combinado com uma corrupção epidêmica colocam em xeque o futuro da democracia brasileira. Explico, como a cada dia o poder legislativo perde cada vez mais credibilidade, enfraquece-se o pilar central da democracia, que é o parlamento como a Casa do Povo.
Ou faz-se uma reforma política que crie uma racionalidade da relação representante- representado, ou então poderá começar um movimento social pedindo a abolição do parlamento. Movimento deste tipo é caldo de cultura para aventuras golpistas de conteúdo civil-militar, que conformaria a famosa aliança militar-civil e tecnocrática.
Os parlamentares no congresso nacional parecem duvidar deste tipo de diagnóstico e seguem ignorando a necessidade de mudança no desenho da relação representante e representado. Em nome de combater o caciquismo partidário continuam a patrocinar o voto personalizado em eleições parlamentares. Existem muitos mecanismos institucionais para que a lista partidária venha a ser elaborada através de prévias partidária, e até com a participação da sociedade do entorno.
Fechar o olho para o distanciamento entre representante e representado é virar as costas para o futuro de nossa jovem democracia.