O sistema político vive uma crise sem precedentes na história do Brasil. O Presidente da república conduziu a conspiração direta para depor a presidente eleita e hoje apresenta avaliação positiva em torno dos 10%. O congresso nacional brasileiro possui mais de uma centena de deputados e senadores citados nas delações premiadas, incluindo o núcleo duro. Os principais partidos políticos foram denunciados como agentes de caixa dois.
De acordo com as melhores experiências acumuladas das crises políticas sistêmicas acompanhada de deposição de governo, seria necessário que nosso país estivesse sendo governado por um presidente tampão que colocasse em prática um programa de transição baseado na construção de um pacto de salvação nacional, onde as principais forças políticas fossem chamados para conduzir o país nesta conjuntura, a exemplo do governo Itamar entre 1993/1994.
Mas o que assistimos é um governo autista que se comporta como um sem noção e aproveita a convulsão porque passa todo o sistema político brasileiro e radicaliza um programa de governo ultra liberal que tem seu âmago em transformações estruturais na vida da classe trabalhadora.
É verdade que o governo Temer recebeu o Brasil em gravíssima crise econômica e mergulhado nos escândalos de corrupção. Mas, implantar um programa de governo radicalmente diferente daquele eleito em 2014 é um grave estelionato político. Todos nós sabemos que existem caminhos alternativos para enfrentar a crise econômica que não precisaria neste momento mexer em leis fundamentais do embrionário wellfare state brasileiro.
Com toda certeza existiria um programa mínimo para equilibrar as contas públicas que não passaria pelo desmonte da previdência e das leis trabalhistas, que tem repercussão no médio e longo prazo, o que na verdade se exige agora, são medidas que tenham repercussões imediatas nas contas públicas.
Não quero dizer que a previdência e a modernização das leis trabalhistas não precisem ser enfrentadas, O quero dizer é que um governo de transição, que é dirigido por um presidente “delatado” e um congresso denunciado, não tem cacife de legitimidade para fazer mudanças tão drásticas no modo de vida da população assalariada.
Por certo o governo Temer levará até o fim suas iniciativas liberalizantes na economia brasileira. Mas o que conseguirá produzir neste momento é o esquartejamento político do Brasil tendo como consequência um sectarismo ampliado no interior do sistema político brasileiro com repercussões imponderáveis para o futuro das relações políticas no Brasil.
Isto posto, acredito que o Brasil chegará em 2018 enfrentando seus próprios fantasmas oriundos de uma longa tradição patrimonialista que assola toda elite política nacional e que agora foi escancarada a partir da operação Lava Jato. Creio que a classe política que governa, governou ou disputa o poder da União, estará em uma encruzilhada histórica.
Os principais partidos do sistema político atual estão esviscerados perante a opinião pública brasileira. PT, PMDB, PSDB, PP, estão no centro dos escândalos de corrupção. Os principais políticos do Brasil estão completamente envolvidos nas acusações envolvendo corrupção e caixa dois.
O eleitorado brasileiro pretende “ajustar as contas” com os políticos nas eleições de 2018. Deve-se esperar uma intensa renovação dentre partidos e políticos que pretendem assumir os governos estadual e nacional deste país. Este cenário de 2018 é altamente susceptível ao surgimento do “novo” nas disputas eleitorais para o executivo.
Mas os políticos tradicionais deverão se manter no cenário político estadual e nacional. O sistema eleitoral proporcional de lista aberta não ajuda o eleitorado a escolher seus candidatos e excluir os indesejáveis. As fórmulas eleitorais que transformam voto em assento parlamentar é incompreendível pelo eleitorado, e como tal, o poder econômico tende a reeleger políticos indesejáveis no plano estadual e federal.
O fator Lula embaça qualquer construção de cenários, porque Lula é um ponto fora da curva, e qualquer análise que ignore o fator Lula tende a cometer sérios erros envolvendo os cenários futuros da política brasileira. Num cenário com Lula, podemos antecipar a noção de que a esquerda estará no segundo turno das disputas eleitorais brasileiras. Num quadro de extrema polarização com a direita e o esvaziamento do centro político nacional, neste cenário assistiríamos o esvaziamento político de PMDB e PSDB nas disputas para o executivo.
Parece claro que em qualquer cenário, com Lula ou sem Lula, deverá emergir uma figura “estranha” à classe política no cenário político de 2018. Esta figura deverá atacar os partidos e os políticos e se apresentar como o “novo”, o empreendedor, o caçador de corrupto, o moralizador, o defensor da radicalização do aparelho de segurança e do sistema penal contra a criminalidade, o realizador, enfim uma direita populista. Esta figura deverá organizar os 30% de direitistas que existem no Brasil, e na ausência de uma candidatura Lula, poderá se transformar em um grande competidor nas eleições brasileiras.
Num cenário sem a presença de Lula, acredito que a coalizão de esquerda perde capacidade de disputa. Caso a esquerda se apresente dividida nas eleições de 2018, num cenário sem Lula, creio que ficará reduzida a até 20% dos votos válidos, e polarizariam as eleições, a direita e a centro direita. Creio que o centro político deverá investir numa candidatura política nova e em ascensão política. Já a direita deverá conquistar voto fundamentado num discurso moralista, reacionário e ultraliberal. Creio que os candidatos tradicionais do PMDB e PSDB estarão seriamente debilitados, nas preferências populares para as eleições de 2018. Quem é o candidato populista de direita que emergirá? Esta será a surpresa de 2018.
Como ficará os sistema partidário, pós Lava Jato? Caso as delações se comprovem, acredito que as punições contra os partidos deveriam ser duríssima, do tipo cassar o registro do PMDB, PT, PSDB e PP, como esta alternativa colapsaria o sistema político nacional, acredito que um pacto informal deverá encontrar uma solução política dentro do quadro institucional vigente.
O atual sistema eleitoral e partidário brasileiro, baseado na ininteligibilidade por parte do eleitor, ajudará em muito estes partidos denunciados no futuro próximo. No cenário parlamentar estes partidos continuariam com forte presença congressual. Na ausência de alternativas competitivas, estes atores partidários tenderiam no curto prazo se reciclar em torno de novas lideranças nacionais e voltar a competir com poder de voto em próximas eleições presidenciais.
Em síntese, Serão as macro políticas de governos que deverão polarizar o Brasil. Bloco social contra bloco liberal deverão se embater no Brasil, pós Lava Jato. Neste momento existe um cenário favorável à hegemonia da direita, tendo em vista as crises fiscais porque passam governos populares na América Latina.
Porém, os povos exigem sua parte nos bolos tributários nacionais. As conquistas populares dos últimos 20 anos na América Latina e no Brasil se transformarão em trincheira de luta social e política contra governos que só conseguem combater crises repassando o custos para o trabalho em proteção ao capital. Assim, espero grandes embates entre direita e esquerda no cenário brasileiro e da América Latina.....a luta de classes, como nunca se viu no terreno democrático está aterrissando no Brasil e na América Latina.
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