Neste final de semana faço uma abordagem em torno da anunciada candidatura de Duciomar Costa ao governo do Pará. O lançamento partiu da direção nacional do Partido Trabalhista Brasileiro, legenda sob a qual Dudu é vice-presidente nacional e, agora, presidente estadual. Esta candidatura está em processo de consolidação, e sob a qual passo a fazer considerações a exemplo das análises que já proferi a respeito das candidaturas Jatene e Helder Barbalho. Como de praxe, para efeito metodológico, balancearei os aspectos positivos e negativos da candidatura Dudu e construirei cenários em torno de suas possibilidades eleitorais
Dudu, como Duciomar é conhecido do grande público, tem uma história recheada de vitórias eleitorais, a exemplo dos mandatos que já exerceu como vereador, deputado estadual, senador e duas vezes prefeitos de Belém. Dos três candidatos considerados mais competitivos para as eleições vindouras Dudu é o único que não advém de famílias letradas e de classes médias, e nem emerge de uma tradicional família que exerce atividade política. Não, Dudu é um outsider na política paraense.
Na literatura de ciência política, outsider significa a emergência de um novo ator na atividade política que não advém de uma escola partidária ou de uma família com sólida tradição no ativismo eleitoral e partidário. Outsider é um estranho no ninho da classe política tradicional. Assim aconteceu com Dudu, que entra na política a partir de um bairro pobre da cidade de Belém, expande sua atuação, elege-se deputado estadual e senador, tendo como ponto de partida, seu próprio trabalho individual nas comunidades. A chegada ao governo de Belém e sua reeleição o consagrou como um ator de perfil semelhante aos políticos “populista” da década de 1940, 50 e 60 do século XX, que tinham relação direta com o povo, e que eram maiores eleitoralmente do que partidos e outras organizações sociais.
A partir desta entrevista de Dudu no blog do Bogéa, veja aqui:
http://www.hiroshibogea.com.br/entrevista-com-duciomar-costa-ex-prefeito-de-belem-confirma-pre-candidatura-ao-governo/
Passo a fazer considerações sobre esta candidatura que se propõe a romper a polarização estabelecida hoje entre PSDB e PMDB, buscando se transformar em uma terceira via com potencial competitivo.
Dudu apresenta-se como candidato ao governo do Pará embasado em dois pressupostos centrais: 1-sua história como um vencedor de eleições e, 2-sua experiência no executivo expresso em obras estruturantes para a cidade de Belém.
É incontestável o poder eleitoral de Dudu. Esta constatação se verifica a partir de suas sucessivas vitórias para a câmara de Belém e para a assembleia legislativa do Pará, obtendo a maior votação para as duas casas legislativas, chegou ao senado federal e à prefeitura de Belém, sem o apoio de máquinas partidárias.
É verdade que o governo Jatene e o PSDB participaram de sua coligação vitoriosa em 2004, mas ninguém pode negar que esta condição foi obtida, a partir de sua campanha solo nas eleições de 2000, onde conseguiu, vencendo as máquinas partidárias mais azeitadas, alcançar o segundo turno com o então prefeito Edmilson Rodrigues, com este vencendo aquele pleito por meio ponto percentual em segundo turno.
Nas eleições de 2002 Dudu chegaria ao senado, com o apoio do governo Jatene, mas suas performances nas eleições parlamentares anteriores, e na disputa de 2000 para a prefeitura de Belém, sem dúvida nenhuma, permitiram que Dudu “varasse” no cenário político estadual e virasse um senador da república e um chefe executivo na capital, por fora das elites políticas tradicionais, representadas por PMDB, PSDB ou PT.
Dudu não é filho nem de máquinas partidárias e muito menos é produto da liderança política de Jáder Barbalho. Só para relembrar, todas as grandes lideranças estaduais do Pará dos últimos 30 anos tiveram a impulsão ou a ajuda providencial do Barbalhão, a exemplo de Hélio Gueiros, Almir Gabriel e Jatene, que são figuras centrais da política paraense na virada do século XX para o XXI. Sem falar da ex-governadora petista, Ana Júlia, que contou com um empurrão decisivo de Jáder em 2006, junto ao Planalto para que a candidatura petista do deputado Mário Cardoso fosse retirada em seu favor.
Em síntese, Dudu é um campeão de votos e de vitórias eleitorais, isso ninguém pode negar, apresentando, portanto, um currículo político robusto e que deve transmitir respeito aos seus adversários, em qualquer eleição que venha a disputar.
Ao lado de uma trajetória vitoriosa em disputas eleitorais, Dudu conta em seu favor com um conjunto de obras estruturantes para a cidade de Belém, que o transformaram em um realizador, a exemplo da drenagem e asfaltamento de mais de 60% das ruas, conjuntos habitacionais e avenidas de Belém, segundo o próprio Dudu, das 3.600 ruas e avenidas que estão asfaltadas em Belém, o ex-prefeito teria drenado e asfaltado 2.600 destas, sendo portanto um recordista histórico e que legou uma bela herança à cidade de Belém.
Outro conjunto de obras, seriam a construção de diversos binários viários na área urbana e as transformações de avenidas em espaço de lazer e de esportes para a população, a exemplo das avenidas Duque de Caxias e da Marquês de Herval. Mas, segundo o próprio prefeito em sua entrevista, o conjunto de feitos que devem lembrar no tempo a gestão de Dudu, são as obras estruturantes da macrodrenagem da estrada nova e o portal da amazônia.
A macrodrenagem deve abranger mais de 13 bairros e beneficiar perto de 500 mil pessoas, e o portal da Amazônia, com quase dois mil metros inaugurados, e com recursos garantidos para que mais 4 mil metros sejam executados, percorrendo um trecho entre o quarto distrito naval até a universidade federal do Pará.
Esta obra devolverá à população de Belém, a orla fluvial da cidade, que há muito havia sido ocupada por interesses privados. Sem falar, nas palavras do ex-prefeito, que as instalações de comportas, já adquiridas no exterior, eliminariam as enchentes que periodicamente acontecem em todos os bairros adjacentes à Estrada Nova, Condor e Jurunas.
Segundo, o próprio prefeito em sua entrevista acima mencionada, a sua marca como executivo competente se demonstrou, quando em apenas dois anos, retirou a cidade de Belém da situação de insolvência orçamentária a partir de uma relação receita-despesa negativa. Esta situação incapacitava o governo de Belém para realizar grandes operações de créditos com o governo da União e com instituições financeiras estrangeiras. Dudu em dois anos, segundo suas palavras, reverteu as contas municipais de uma situação déficit para superávit. Esta ação de saneamento financeiro, permitiu que Belém saltasse de um orçamento de 700 milhões para 2 bilhões de reais/ano, em apenas 4 anos de governo.
Mas não só as notícias e acontecimentos positivos retratam a história política do ex-prefeito Duciomar Costa. Existem fortes percepções negativas que podem comprometer suas possibilidades competitivas nas eleições estaduais de 2014. Acusações de malversação dos recursos públicos, povoaram sua passagem pelo governo de Belém, particularmente expressas nas ações do Ministério Público Federal e Estadual e nas reverberações destas notícias na grande imprensa, especialmente, a partir do grupo de comunicação Rede Brasil Amazônia-RBA.
Além das acusações de corrupção, o ex-prefeito Dudu, enfrentou críticas devastadoras, de que em 8 anos de mandato, não conseguiu mudar o quadro da assistência à saúde de Belém, e nem investiu com prioridade em políticas sociais, a exemplo políticas de inclusão social dirigidas à juventude, ao idoso e aos moradores de rua. Sem falar de ausências de políticas estruturantes no campo da geração de emprego e renda e em políticas de promoção de saúde eficaz, a exemplo da Estratégia Saúde da Família, que ficou submetido à lógica do clientelismo político, quando do recrutamentos dos agentes comunitários de saúde. O caos no transporte público é amplamente debitada na conta do ex-prefeito de Belém em tela.
Em sua entrevista no blog do Bogéa, linkado acima, Dudu deixa claro que as acusações de irregularidades envolvendo a iniciativa de comprar o Hospital Sírio Libanês, O uso de recurso do SUS para comprar carros da guarda municipal e os desvios de finalidade de recursos do orçamento municipal para as obras do BRT, não se sustentam, porque não são verídicas. Na entrevista supracitada, o ex-prefeito faz a sua própria defesa.
Seguramente, caso o prefeito pretenda se tornar um candidato competitivo em 2014, terá de enfrentar estes processos com respostas contundentes que venham a desconstruir a imagem de gestor corrupto que lhe foi infringido a partir das denúncias do MP.
Mas as pedras no caminho da candidatura Dudu não se resumem à questão das acusações do MP. Existem obstáculos de ordem política e partidária. Efetivamente, Dudu ainda não consolidou uma aliança partidária que cumpra dois objetivos centrais: 1-ter máquinas partidárias com capilaridade e poder de mobilização em todos os municípios do Pará, e 2-garantir um espaço razoável na televisão para poder ter uma razoável exposição pública, o suficiente, para ser notado como um candidato competitivo pelo eleitorado estadual.
Além destes obstáculos de ordem moral, político e partidário, Dudu não conta com o aporte de um grande grupo de comunicação em favor de sua candidatura, o que o deixa em inferioridade midiática em relação às candidaturas do PSDB e do PMDB. Portanto, os desafios postos para a consolidação de uma terceira via no Pará são monumentais.
Mas uma certeza axiomática já podemos afirmar, mesmo no contexto de um cenário sombrio, em relação às possibilidades da candidatura Dudu, podemos concluir: 1-este ator seguramente garantirá o segundo turno nas eleições paraenses, 2- Dudu, no mínimo, decidirá quem será o novo governador do Pará, e 3- a partir das eleições de 2014, Dudu estará vivo, por pelo menos, mais 10 anos na política paraense.
Mas, Dudu costuma surpreender em matéria eleitoral. Caso emerja um cenário positivo para esta candidatura, que hoje ainda não está perceptível para este analista, ou seja, caso Dudu viesse a enfrentar e superar os debates envolvendo as denúncias do MP, este candidato poderia emergir como um grande competidor nas eleições de 2014 no Pará.
Neste cenário, acima proposto, Dudu poderia se tornar uma terceira via com possibilidades eleitorais efetivas, vindo a ocupar uma lacuna eleitoral que se expressa nos interstício das candidaturas do PSDB e do PMDB. De um lado, temos o PSDB que caminha para o quinto mandato, o terceiro de Jatene, ou 20 anos de mandonismo no Pará, gerando possível cansaço no eleitorado paraense. De outro lado, o candidato do PMDB, poderá patinar na rejeição histórica acumulada pelo sobrenome Barbalho na política paraense, especialmente na região metropolitana.
Eu diria o seguinte, o cenário político para a disputa de 2014 no Pará, apesar de começar a ficar claro, ainda acumula uma razoável proporção de indefinição para quem é analista de competição política.
Parece que as ações invisíveis do PSDB e do PMDB, na arena parlamentar e jurídica visam impedir a candidatura Dudu até o dia 30 de junho de 2014. Estes partidos estão usando as regras do jogo para abortar esta candidatura. A Comissão Parlamentar de Inquérito do BRT materializa com clareza este acordo informal envolvendo PSDB e PMDB, visando inviabilizar jurídica e politicamente a candidatura Dudu. Este fato demonstra que Dudu não é um cachorro morto na política paraense.
Como nenhum processo ainda transitou em julgado, e como o objeto da CPI do BRT já foi motivo de denúncia por parte do MP, inclusive com sentença da justiça estadual absolvendo Dudu, é de se prever, com alto chance de acerto, que a candidatura Duciomar não será inviabilizada a partir de artifícios parlamentares ou legais. Ou seja, quem melhor se relacionar com o “homenzinho de Traquateua” nesta campanha eleitoral, no contexto de não passagem deste ator ao segundo turno, poderá se transformar no novo governador do Pará.
Tenho dito.