Venho falando desde o pós junho de 2013 que aquelas memoráveis jornadas representaram a entrada em cena, no Brasil, da sociedade civil do século XXI. Este mesmo fenômeno, por outras motivações já haviam varrido o oriente médio e a África com a primavera Árabe. Nestes países ditatoriais, foi uma luta pela primeira geração de direitos, ou seja, a proteção do indivíduo e da sociedade contra o arbítrio do governante absoluto.
Aqui no Brasil, as mobilizações refletiram uma luta por direitos de terceira e quarta geração: direitos sociais, funcionamento dos serviços públicos, desenvolvimento sustentável, transparência na política e luta contra a corrupção.
Mas as jornadas do centavo, que foi o mote para aquele grande movimento, revela muito mais do que os nossos sentidos perceberam. Aquele movimento q revelaria algumas características únicas para a história recente dos movimentos políticos no Brasil. A convocação foi individualizada através das redes sociais. Cada pessoa ou pequeno grupo expressa um tipo de reivindicação(self opinion), Não havia comando centralizado e as centrais sindicais, os partidos, os governos e congressos foram amplamente repudiados.
Lembro-me bem quando o Movimento Passe Livre de São Paulo suspendeu seus chamados à ruas, e o povo continuou em mobilização. Este fato retirou qualquer dúvida em torno de quem era “dono” daquelas manifestações...ninguém...e...todos. Cada um presente era seu próprio dono e não obedecia a comandos políticos ou ideológicos.
O século XVIII assistiu grandes revoluções que lutavam por liberdade, a exemplo das revoluções americana e Francesa. O Século XX assistiu grandes revoluções que lutavam pela igualdade, a exemplo das revoluções Russa e Chinesa, parece que o século XXI assistirá as revoluções pela eficácia, eficiência e efetividade dos serviços públicos, ou seja é a era das revoluções desideologizadas, despartidarizadas, que não tem preferência e nem preconceito com nenhum tipo de governantes, seja ele de centro, direita ou esquerda: o povo quer ver seus impostos bem empregados e os serviços públicos funcionando de fato e com qualidade.
Caso estes pressupostos, sobre o ano de 2013, guardem alguma relação com a realidade, poderíamos inferir algumas tendências que poderiam vir a ocorrer durante o ano eleitoral de 2014. Quem for governo, seja nos planos estadual, seja no plano federal, deverão ser responsabilizados pelos péssimos serviços públicos de saúde, segurança e mobilidade urbana.
Firmando estes pressupostos, poderíamos concluir que há uma enorme tendência psicológica de que quem for governo está com a cabeça na guilhotina. Isto não quer dizer que todos os governantes incumbentes serão derrotados, o que estamos afirmando é que existe uma tendência nesta direção.
A última pesquisa divulgada pela CNI/IBOPE em dezembro de 2013, revelou que dos 27 governadores apenas 4 obtiveram nota superior a 5. Ou seja, 90% dos governadores estavam reprovados na opinião pública dos estados naquele momento. Estes dados empírico revelam, desde aquele momento, uma tendência de derrota que deverá perseguir os governantes incumbentes em 2014 no Brasil.
Existe uma tendência subjetiva de que as memoráveis jornadas de 2013 desemboquem nas urnas em 2014. Caso esta tendência se materialize assistiremos a maior degola, do período republicano, de governantes e seus candidatos neste pleito próximo vindouro. Parece que vivemos o efeito de enxaqueca política da população causada pela insuficiência dos serviços públicos e pelo festival de escândalos protagonizados pela classe política e hipertrofiado pela mídia sensacionalista. Traduzindo: enquanto não for enfrentado da ineficácia, ineficiência e inefetividade dos serviços públicos a população tenderá a conceder avaliação negativa aos governantes, mesmo que eles tenham feitos outras obras, mas que não atendam a infraestrutura social. Notem, este é um texto ensaísta e que produz cenário prováveis.
Creio que a renovação parlamentar mantará a média entre 40 e 50%, e os votos brancos e nulos deverá ter um incremento entre 10 e 15%, a média tem sido de 4 a 6%, devido ao “aborrecimento” de parte da população com a atuação da classe política.
Em síntese: quem for governante que coloque a “barba de molho”, 2014 é um ano de ajustes de contas. Talvez tenhamos um ou outro governante que escape desta degola. Em que pese a avaliação da presidente Dilma vir se deteriorando paulatinamente, esta ainda possui muitos recursos, para além dos governadores, para tentar reverter esta tendência de queda. Dilma já vem perdendo no sul, sudeste e centro-oeste, e parece que esta tendência chega ao norte. Não tenhamos dúvida, Eduardo Campos terá votação significa no nordeste e grande parte deste voto migrará do PT para o PSB, de Dilma para Eduardo.
Três fatores alterarão este ambiente de pessimismo em relação à candidatura da presidente Dilma:1- que o escândalo da Petrobrás seja minimizado na cabeça da população, 2- que o escândalo de superfaturamento das obras da copa sejam atenuados, e 3- que a economia brasileira pareça aos agentes econômicos e à sociedade que está sob controle. Creio que estas três possibilidades são de baixa probabilidade de vir a acontecer nos próximos 6 meses.
Portanto o cenário aponta para uma tendência de degola dos governantes incumbentes, ou seja, aqueles que estão no exercício do governo.
Tenho dito.