Num município do nordeste paraense, um cantor da noite -, ao redor de uma mesa recheada de caranguejos, peixes assados, várias “geladas” e um grupo de amigos - antes

de pegar na viola saiu com essa: “que tal, nesse ambiente todo mundo aqui está “muuuuito” preocupado com a divisão do estado, sei lá e nem quero saber quem vai votar contra ou a favor, dividindo ou não, o que vai mudar na minha vida? – só sei que vou continuar tocando minha viola”.

Essa declaração espontânea demonstra muito bem o grau de apatia, até então, da população em relação à campanha empreendida pelo SIM e pelo NÃO. Ninguém mobiliza ninguém! Ninguém motiva ninguém! Nem a causa motiva ou mobiliza alguém! Ninguém se motiva a sair de casa para abraçar a causa. A não ser alguns poucos militantes com certa consciência induzida pela emoção. A “espetacularização” dos programas de TV e rádio era a grande expectativa dos “donos” do processo para que esse ente inerte chamado povo-eleitor pudesse espreguiçar-se e, quem sabe, começar a ter forças para levantar-se e começar a comentar – pelo menos – em bares, no trabalho, em casa. Será que isso está acontecendo? Será que a força da TV e Rádio está conseguindo acordar este eleitor do “berço esplêndido” ao som dos bregas, dos carimbós, dos sertanejos e das vozes apelativas e chorosas nos palcos televisivos? Pela declaração de nosso cantor da noite, a apatia e o desinteresse continuam a abraçar nosso Grande Eleitor!

Historicamente e culturalmente não votamos em ideias, infelizmente! Os partidos existem para viabilizar candidaturas. As regras do sistema eleitoral determinam a forma que influencia na decisão do voto. As campanhas são personalizadas. Votamos em pessoas. Não há abstração. Existe o João, a Maria, o Antonio, o Manoel que receberá meu voto para me representar. Essa eleição plebiscitária é atípica: vou votar numa ideia, numa abstração. O que move a consciência do eleitor para a decisão do voto? Em eleições personalizadas como é a nossa, muitos são os motivos, passando do psicológico/emocional, dos interesses de grupos sociais onde a conversação social pode formar opiniões individuais, e dos interesses utilitaristas; dos que  votam se esse ato for visto como potencialmente capaz de trazer-lhes algum benefício social ou econômico, e tem aqueles que votam por seus bolsos.

Em todo o processo de campanha política há os ingredientes intrínsecos ao eleitor de paixão e de interesse. O ato de votar implica em escolher a alternativa que produza o melhor resultado ou escolher entre as alternativas disponíveis que garanta minimamente a satisfação de seus interesses. Então, quando o custo de votar não for compensado pelos benefícios derivados de determinadas  ações por quem se propugna a ser governo ou legislativo, o eleitor não vota. Agora imagine numa eleição – o plebiscito – onde não existem candidatos? A vacância na mente do eleitor seja ele médio ou comum é enorme.

Os defensores do SIM e do NÃO ensaiaram timidamente na região do Pará remanescente alguns momentos de campanhas. A maioria desses ensaios foi localizado através de eventos de debates. O povão, a grande maioria, aquele que decide a eleição passou ao largo. Os defensores do SIM e do NÃO apostaram tudo na TV e Rádio. O palco televisivo seria o instrumento para esclarecer, informar, mobilizar e convencer os eleitores para votar nesta ou naquela proposta.

Depois de uma semana de horário eleitoral, o que se vê do lado do NÃO é uma densa dose de paixão/emoção, de sentimento de perda e de vitimização; do lado do SIM intensa manifestação de racionalidade propositiva.

Por outro lado, ao invés de informar, estão desinformando a população. Os dois, tanto SIM quanto NÃO, fazem os programas como se fossem apenas UM voto (SIM ou NÃO e estará tudo resolvido). Não apresentam informações precisas do porque EU tenho que votar SIM no Tapajós ou Carajás; mesma situação do NÃO, não apresentam também informações do porque que eu tenho que votar Não no Tapajós e Carajás.

Os marqueteiros tanto do SIM quanto do NÃO colocaram tudo dentro da mesma panela, temperaram com os mais variados ingredientes a gosto e, agora, oferecem a sopa aos eleitores, afirmando que “a minha sopa é a mais gostosa e suculenta do que a sua”. Será que o povo está conseguindo tomar essa sopa? Não percebem que dentro desta panela existem ingredientes completamente diferentes que tem dificuldade de se misturar. O que se tem em comum é que Tapajós e Carajás querem se emancipar.

Para tornar realidade e tentar convencer o eleitor - primeiro pra ir no dia 11/12 votar, segundo pra votar na minha proposta -, cada região emancipacionista deveria falar com sua linguagem própria. Tapajós tem características culturais, econômicas, sociais, históricas completamente diferentes do Carajás; que também tem características completamente dispares do Tapajós. Por que não mostrar isso à população? Qual o diferencial do mercado do voto que a TV e Rádio estão me apresentando para EU, eleitor, poder escolher se quero ou não o Tapajós emancipado; se quero ou não o Carajás emancipado? – infelizmente, até o momento, nenhum. Tapajós está perdendo a grande oportunidade de sua luta histórica de 154 anos. O tempo de campanha é exíguo, não há prorrogação.

 

DORNÉLIO SILVA

Especialista em pesquisa de opinião

Mestrando em Ciência Política – PPGCP/UFPA

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