Para uma análise multidirecional de um momento político,  algumas variáveis devem ser observadas:

A economia  nacional e sua inserção no contexto internacional. A legitimidade política do governo central.  A governabilidade  no congresso e o grau de adesão ou não dos movimentos sociais à situação ou à oposição em relação ao governo.  A ação dos mídias   em relação ao confronto político em curso.

Caso sejamos capazes de analisar as variáveis centrais (economia e política) e sua interface com outras variáveis menos centrais, então poderemos estabelecer com boa probabilidade de acerto as tendências mais prováveis para o desfecho de uma crise política.

Já existe um consenso dentro da ciência política contemporânea de que existe um tripé responsável pela  estabilidade estratégica de  um governo:  Economia, Política e Equilíbrio fiscal do Estado. Quando qualquer um  destes fatores entram em desequilíbrio, há uma contaminação recíproca como se fosse uma ação endêmica intra pólis.

Quando uma economia entra em recessão, ela imediatamente corrói com a avaliação política  de um governo. Quando uma crise política profunda se prolonga, ela contamina  em consequência todo o sistema econômico, capilarizando até os consumidores. Quando o  Estado entra em crise fiscal, ele contamina a economia e a política.

Neste momento temos no Brasil uma crise econômica se aprofundando, a partir da recessão em curso e de uma inflação que insiste em crescer. Estamos assistindo uma violenta crise política impulsionada a partir do escândalo do Petrolão. O Estado brasileiro apresentou no mês passado um ´deficit em conta corrente. Ou seja, o governo gastou mais do que arrecadou. E finalmente, os noticiários da crise de governo persistem e se perpetuar nas manchetes diárias gerando enorme sangramento em um governo já anêmico.

Qual o desfecho mais provável da crise?

Para analisar o desfecho mais provável da crise, devemos olhar para a relação executivo-legislativo e da interface do governo e da oposição com os movimentos da sociedade civil. Neste momento,  existem claros sinais de que os grandes partidos da base do governo começam a se afastar estrategicamente do governo Dilma. Hoje o PT já tem pouco poder de mando no congresso nacional.

A pauta bomba em curso e o isolamento parlamentar do PT dentro do congresso, indicam que a crise caminha para um desfecho contra o governo Dilma. A questão é: como a oposição e o PMDB pensarão em abrir o processo do impeachment? A oposição tucana quer o impeachment já, pois quer novas eleições presidenciais antes de Dilma completar 16 meses de governo. Já o PMDB quer impeachment após 16 meses, assim Michel Temer assumiria a presidência sem necessidade de eleições.

Devido a medidas de ajuste fiscais desenvolvidas pelo governo Dilma, os movimentos sociais, principalmente os sindicatos e movimentos estudantis não se sentem à vontade a sair às ruas para defender o governo Dilma. A parte de classe média petista está acuada com as revelações e prisões envolvendo o escândalo do Petrolão.

Enquanto isso, o congresso nacional massacra Dilma apoiando medidas anti-ajuste fiscal, revelando enorme populismo e irresponsabilidade política com a estabilidade fiscal do Estado brasileiro. É um paradoxo, Eduardo Cunha e a oposição congressual com o apoio velado  de parte do PMDB estão neutralizando os movimentos sociais apoiando a pauta bomba que cria gastos fixos generalizados para o governo, em forma de aumento salariais, em um momento em que o governo federal está quebrado financeiramente.

Enfim, Dilma e o PT estão no pior dos mundos.

As grandes redes de televisão ganham enorme audiência popular apresentado diariamente os “corruptos do governo” em rede nacional. O espetáculo das prisões do Lava Jato rende muitos pontos nas pesquisas  midiáticas. Parece que o universo conspira contra o PT e o governo Dilma. Hoje Dilma não ostenta  dois dígitos de aprovação de governo. A legitimidade da presidente está mais baixa do que a legitimidade de Collor em 1992.

O governo Dilma parece que caminha para seu final, quando? Aí a luta entre PSDB e PMDB poderão influenciar em muito este desfecho. Mas a CPI do impeachment parece que caminha a passos largos. Veremos os próximos lances deste jogo. Para a oposição tucana não basta derrubar Dilma, tem de levar Lula junto, senão o jogo ainda terá lances decisivos em 2018  contra a pretensão da oposição tucana.

Mas todo o jogo está ocorrendo dentro das regras constitucionais. Afinal impeachment está previsto em nossa carta magna.

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