Faoro em seu célebre livro "Os Donos do Poder" publicado inicialmente em 1958 nos relata com precisão científica a herança lusitana em solo brasileiro: o patrimonialismo. O
Patrimonialismo significa a indistinção entre a esfera pública e a esfera privada. Oliveira Vianna no monumental "Instituições Política Brasileiras" nos fala da gênese dos partidos imperiais como subproduto dos clãs parentais, que trouxeram para a esfera pública toda uma tradição de relações clientelista estabelecidas entre o senhor e seus agregados. Esta é a herança cultural patrimonialista e clientelista relatada pela nossa literatura política.
A cultura do "jeitinho", do "passar na frente nas filas" mediante propina, o suborno do guarda do trânsito para não ser multado é a reverberação em nosso cotidiano desta cultura predatória que sempre justifica a relativização de nosso código ético-moral.
O nosso sistema político através das regras que organizam a competição eleitoral e partidária, notadamente, estamos nos referindo ao sistema eleitoral baseado no voto proporcional de lista aberta e no financiamento privado das campanhas eleitorais induz à corrupção. Este modelo eleitoral e partidário fragiliza os partidos e estabelece a guerra de todos contra todos entre os candidatos dentro de cada partido.
Por outro lado, o financiamento privado das campanhas induz a promiscuidade entre políticos eleitos, fornecedores do Estado e burocracia. De um lado o governante ou o deputado estão condicionados a "entregar" obras, serviços ou emendas para o financiador de campanha, de outro, este fornecedor deverá viabilizar em aliança com a burocracia o andamento dos processos até o pagamento dos recursos públicos aos fornecedores.
Então conculímos: o patrimonialismo e a corrupção estão presentes na cultura política nacional e o desenho institucional do sistema eleitoral e partidário induz a promiscuidade entre políticos, burocratas e os fornecedores.
Alguém poderia contra-argumentar: mais a opção final pela "safadeza" é individual e ninguém é obrigado a cometer corrupção ou corromper-se. Eu diria é verdade: mais um país não pode depender da boa vontade de cada cidadão. Um país deve estar "armado" de códigos penais duríssimo, instituições republicanas e de um povo interessado em controlar o planejamento e a aplicação dos recursos públicos. Além logicamente, de uma imprensa imparcial e livre.