1-Desde a supreendente vitória de Trump 1, em 2016 nos Estados Unidos, passando pela vitória de Bolsonaro no Brasil em 2018, do crescimento da extrema direita na França e Alemanha, até a vitória recente de Trump 2 em 2024, parece claro que o sistema político do mundo democrático ocidental vem sinalizando que algo diferente está ocorrendo com o sistemático realinhamento eleitoral pela extrema direita que vem se desenhando há pelo menos 08 anos.
2-Governos sucessivos e alternados da direita e esquerda moderada vêm sendo reprovados pelo eleitorado que assiste sua condição de vida, congelado ou em retroação continuadas, quando o poder executivo vem sendo gerido por forças de direita ou esquerda, fazendo coalisões de governo com o centro.
3-Parece cristalino que o modelo de gestão de governo, ancorado em última instância, na dependência estrutural ao capital financeiro para equilibrar as contas públicas, que fecham anualmente em déficit, tem drenado, pelo menos 50% da arrecadação tributária para o pagamento da dívida pública, restando tão somente 50% do orçamento para honrar com os gastos fixos constitucionais da máquina pública e realizar investimentos, muito abaixo das necessidades de cada país.
4-Governos como os dos Estados Unidos- EUA ou do Brasil, apresentam inflação controlada, Produto Interno Bruto-PIB em crescimento, no caso brasileiro, queda do desemprego. Mesmo assim, quando a opinião pública é aferida através de pesquisas, nota-se um grande descontentamento da população com seus governos.
5-Em meio ao relativo sucesso administrativo dos governos eleitos no centro do capitalismo e no Brasil, temos como resposta do eleitorado, a exigência de mais política públicas de redistribuição de renda, melhoria do aparato de proteção social, em especial aumento de salários e investimento ampliados em segurança, educação e saúde.
6-Quem vem se apresentando com discursos populistas e com respostas simplistas aos graves problemas de gestão de governos é a extrema direita, que aos poucos vem conquistando parcelas, cada vez mais expressivas do eleitorado, estas propostas populistas vêm acompanhada de discurso que sugerem o rompimento da ordem legal estabelecida.
7-Caso as forças políticas democráticas, à direita , ao centro e à esquerda não enfrentarem este modelo sistêmico político atrelado à dívida pública, taxas básicas de juros crescentes e na captura de grande parte da arrecadação fiscal para pagamento de dívidas públicas, em escala escorchante, em breve, a extrema direita, na gestão de governo nacionais, sem condições de oferecer governos com respostas às demandas populares enfrentará enormes mobilizações populares e reagirá com repressão em escala que ameaçará as ordens constitucionais vigentes.
8-Eis o paradoxo, que parece intransponível para as forças democráticas, seria preciso alterar estruturalmente a ordem econômica mundial, que emergiu no ocidente, desde a segunda guerra mundial, e que drena recursos dos governos, do centro e da periferia do capital, para rentismo, em escala totalizante. O Brasil paga 50% de sua arrecadação tributária anual para a honrar com a dívida pública.
9-A conjuntura política e eleitoral, em todo o mundo ocidental deverá assistir, como regra, a ascensão da extrema direita, e como exceção, a vitória pontual de governo progressistas ou de esquerda. Caso esta análise prospectiva esteja correta, vários cenários poderão ser descortinados com consequência direta para o futuro da democracia e da paz no mundo.
10-O cenário mais próximo a se antever serão mobilizações populares, coordenadas pelas oposições democráticas em defesa de direitos sociais, civis e democráticos. Estas mobilizações testarão os limites da cultura e das instituições democráticas em todo o mundo ocidental. Este cenário se assenta na ideia de que a extrema direita não terá, legalmente, como produzir políticas públicas que atendam as necessidades da imensa massa de despossuídos.
11-Do ponto de vistas das relações entre os poderes legislativos e executivo, há uma tendência, de hegemonia da extrema direita e direita no interior dos parlamentos, dando o suporte institucional para a extrema direita negar direitos e reivindicações dentro da ordem, cabendo à oposição e a massa populacional se colocar contra a ordem vigente. Nestas circunstâncias estará dada as condições para os governos de extrema direita usarem os recursos constitucionais como o estado de emergência, estado de sítio, o que abrirá condições para golpe de estados.
12-Um segundo cenário, menos provável, seria as forças democráticas constituírem maiorias parlamentares, e junto com as supremas cortes judiciárias, realizarem o freio e contrapeso aos governos de extrema direita, como ocorreu no Brasil durante o governo Bolsonaro, ou durante o governo Trump 1, fazendo com que o governo incumbente direitista não venha superar a ordem constitucional vigente.
13-A grande solução estrutural necessária, mais de dificílima probabilidades de vir a ocorrer, seria uma reestruturação global do modelo de financiamento dos déficits públicos estatal baseados na extorsiva ação do sistema financeiro mundial, que viesse a mitigar os juros e ampliar os perfis das dívidas públicas. Normalmente estas grandes concertações só ocorrem no contexto de grandes guerras, onde os vencedores impõem novos modelos de gestão do capital em escala global.
14-O bloco econômico BRICS, liderados pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, vem construindo um projeto alternativo de relações das instituições financeiras globais e os países emergentes, com o questionamento do dólar como moeda que serve de câmbio internacional. Esta iniciativa tende a criar grandes confrontos comerciais e financeiros entre os EUA e o BRICS.
15-Para finalizar estas breves considerações, não há dúvida de que os governos constitucionais estão “travados” pelo sistema político e econômico aos quais estão enclausurados. Direita e esquerda moderada estão sem condições de realizarem governos com grande capacidade de dar respostas, nas dimensões exigidas pela grande massa populacional do mundo ocidental.
16- Por outro lado, ninguém imagina que a extrema direita, na direção de governos estatais, virá produzir resultados que venham a gradar a maioria do povo pobre. Portanto, o cenário para os próximos anos será de incerteza política, tendo na extrema direita a direção dos processos eleitorais democráticos no ocidente. As oposições progressistas deverão se reinventar.