É verdade, o eleitorado brasileiro não tem no continuum ideológico direita-esquerda um atalho informacional para sua tomada de posição política numa disputa eleitoral. Do ponto de vista dos estudos científicos é claramente percebido a diferenciação na ação congressual entre aquelas iniciativas  que propugnam prioritariamente pela equidade e outros que buscam prioritariamente aprovar legislação destinadas a apoiar os investimentos  empresariais.

Noberto Bobbio diria que as iniciativas que lutam por projetos que visam a equidade e a distribuição de renda, se caracterizam como iniciativas de esquerda e aqueles que buscam prioritariamente formular projetos para apoiar a iniciativas de investimento empresarial, se caracterizam  como iniciativas de direita. Quem fica numa linha intermediária entre estas duas posições poderíamos chamar de centro.

Mesmo constatando que para o eleitor, em sua grande maioria, a diferenciação ideológica pouco conta em suas referências analíticas pessoais, relembro estas categorias teóricas para afirmar que do ponto de vista científico a disjuntiva direita-esquerda é uma importante referência para entendermos o funcionamento do congresso e dos governos, tendo por referências as políticas públicas produzidas pelo sistema político nacional.

O continuum ideológico direita-centro-esquerda é muito importante para podermos pensar a distribuição espacial das preferencias eleitorais na Demos brasileira, e que por certo tem uma grande capacidade explicativa quando estamos analisando um processo eleitoral, como este que se aproxima no Brasil em 2018.

A Teoria Econômica da Democracia  nos empresta um modelo para pensar  o mundo das disputas eleitorais,  derivando o comportamento do eleitor do comportamento do consumidor em um mercado competitivo. Assim, nós habitaríamos um mercado eleitoral formado por consumidores de políticas públicas (eleitor), onde os candidatos seriam os empresários e as propostas e programas partidários seriam as mercadorias  que assumiriam a forma de políticas públicas.

Também na perspectiva da Teoria Econômica da Democracia, foi criado a categoria Eleitor Mediano, que seria composto por eleitores que tenderia para a média aritmética e conformam a massa do eleitorado. Neste mundo idealizado por esta teoria,  os dirigentes partidários e políticos, à direita, ao centro  e à esquerda seriam a elite política que competem democraticamente pelo voto do eleitor mediano.

Nesta perspectiva teórica, a Democracia seria um método de seleção de governantes. Esta redução teórica do conceito de Democracia serve para que este conceito fosse simplificando facilitando pesquisas comparativas entre diversos modelos de sistemas políticos competitivos. Assim como o conceito de Partido Político foi reduzido para a seguinte formulação:  Partido Político é um conjunto de indivíduos que se organizam para disputar e ocupar através de eleições democráticas uma parcela do poder de Estado. Assim, termina-se com interminável discussão para saber em qual País existe ou não Partidos Políticos.

Feita estas advertências metodológicas, passo a iniciar uma breve análise dos cenários eleitorais que começam a emergir tendo por base analítica a Teoria Econômica da Democracia e algumas de suas categorias analíticas.

O eleitor mediano brasileiro, que conforma em torno de 90% da Demos brasileira, é por excelência conservador, tendo em conta a trajetória da democracia brasileira que sempre foi uma combinação de governos oligárquicos e ditatoriais alternado por estreitíssimos períodos de democracia competitiva.  Traduzindo,  no Império, na república velha, no período de 1930-45, convivemos, tão somente, em 150 anos de Estado Nacional organizado, a existência de democracia popular entre 1934 e parte do ano de 1937.

Nestes contextos autoritários, experimentamos nossa primeira democracia popular, iniciada em 1946, no contexto terrível da Guerra Fria iniciada a partir do fim da segunda guerra mundial, e que veio a limitar em muito a entrada do povo brasileiro na arena política eleitoral, culminando com o Golpe Militar de 1964 e que perdurou até 1985. Em síntese, o horror, o medo da esquerda e do socialismo foi introjectado na cabeça e no coração do brasileiro desde a tenra idade, nas escolas públicas militarizadas.

Hoje assistimos, sem surpresa, uma massa de pobres e jovens que ascendem pelas universidades públicas e privadas, e que começam a compor uma nova classe média, que apesar de começarem a gostar da democracia, sentem “ascos” da equidade e do pensamento de esquerda.

Este comportamento é o subproduto de nossa história política de exclusão das massas da participação política e das heranças da Guerra Fria que conformou várias gerações, de avós a netos reacionários, que detestam o pensamento igualitário, porque aprenderam que lutar por igualdade social é sinônimo dos experimentos mais catastróficos do socialismo do Leste Europeu. Por certo, estes jovens não aprofundaram conhecimento sobre o Wefare State Europeu, ou não fariam festas para as vitórias golpistas da “Casa Grande”, aqui no Brasil.

Pois bem, nosso eleitor mediano é conservador, anti igualitarista, detesta a pobreza e a vê como causa de sua lenta ascensão. Esta classe média emergente, que neste momento experimenta situação de estagnação, sonha em ser rica e detesta a pobreza, e despreza todos os projetos que sinalizam para a inclusão social. Aqui constata-se com clareza cristalina a hegemonia da ideologia capitalista sobre a ideologia da equidade, e isto é Fato.

Caracterizado o eleitor mediano como conservador e anti-igualitário poderemos afirmar que existem em torno de 10% do eleitorado que estão perfilados em torno dos extremos da política brasileira, 5% em torno da direita radical e 5% em torno da esquerda radical. Noventa por cento do eleitorado,o (eleitor mediano) poderíamos caracteriza-lo teoricamente como centro (60%), centro direita (15%) e centro esquerda (15%).

Caso este esquema teórico se aproxime razoavelmente da realidade política brasileira, poderíamos começar a pensar nomes e as distribuições de preferências eleitorais na sociedade brasileira. Este esquema se completa com a informação de que vivemos o fenômeno da despartidarização que se iniciou  na década de 70 do século XX, na europa e nos EUA.

O fator eleitor mediano se expressa com precisão quando analisamos o destino do voto de Lula. Segundo o Instituto Data Folha, 1/3 do eleitor de Lula segue a orientação eleitoral de Lula, o segundo terço dos eleitores de Lula passam a apoiar o candidato Bolsonaro, e o terceiro terço dos eleitores de Lula se dispersam entre os demais candidatos presidenciais.

 

 

Esta hipótese se confirma quando analisamos os cenários eleitorais sem a presença da candidatura Lula. Os votos de Lula migram para Marina, Ciro e Bolsonaro e em menor proporção para os demais candidatos.. Na presença de um candidato petista indicado por Lula, é de se esperar que este candidato, em pouco tempo venha a atingir os 10% de intenções de votos.

O mérito de Lula, após 5 disputas presidenciais e dois governos federais, é de ser identificado pelo eleitor mediano como um representante dos pobres. Quando Lula é retirado da cédula eleitoral, este mesmo eleitor mediano não consegue enxergar outro candidato confiável para representar os interesses dos pobres brasileiros. Lula conseguiu o mérito de conquistar, dentre seus eleitores, a maioria de eleitor mediano, podemos concluir que   80% do eleitorado lulista é composto de eleitor mediano, que não são socialistas ou de esquerda, são pobres e ideologicamente estão à direita do espectro ideológico.

Feito esta breve análise do fenômeno Lula, podemos concluir que dentre os candidatos presidenciais temos dois candidatos extremistas, pela esquerda (Boulos) e pela direita (Bolsonaro). Pela centro esquerda teremos: Haddad/J.Wagner, Ciro, Marina e Manuela do PC do B. Pela centro direita, teremos: Alckmin, Joaquim Barbosa, Álvaro Gomes, Meireles, Huck, etc).

Neste quadro apresentado, não seria leviano afirmar que as eleições de 2018 , pela pulverização de candidatos, em muito lembrará as eleições de 1989. Isto posto, podemos inferir que o candidato que atingir entre 17 e 20% por cento é sério candidato a passar ao segundo turno.

Para quem acha que Bolsonaro, por não ter partido ou coalizão forte, tende a definhar no curso da campanha, devo contra argumentar que em recente pesquisa, o Instituto data Folha evidenciou que 17% dos brasileiros preferem um  governo ditatorial e que outros 21% por cento não ligam se o governo é democrático ou ditatorial. Ou seja, Bolsonaro tem um público que chega a 38% do eleitorado.

Eu diria que Alckmin, Álvaro Dias e Joaquim Barbosa disputarão palmo a palmo os votos da centro direita. Devo relembrar que o eleitor de São Paulo tem tradição de votar em tucano, e que se esta tendência vier a prevalecer Alckmin tende a crescer no curso da campanha. Joaquim Barbosa se adequa perfeitamente à exigência conjuntural de um candidato conservador, autoritário e honesto.

Pela centro esquerda, creio que os grandes competidores de saída seriam Marina e Ciro Gomes. Porém o PT e Lula estão construindo uma estratégia que pode vir a da certo na luta pelos votos da centro esquerda. Lula, mesmo preso,  seria lançado a presidência com Fernando Haddad como vice.

 O PT faria uma campanha densa apoiado na prisão de Lula. Quando Lula vier a ser impedido pelo TSE com base na Lei do Ficha Limpa, o eleitor mediano já teria percebido a chapa Lula-Haddad, o que daria o fôlego inicial para que o candidato petista viesse a disputar, com igualdade condições, a hegemonia no campo da centro esquerda e vir a pleitear a passagem ao segundo turno em 2018.

Eu diria, que hoje a questão seria a seguinte: qual o candidato que vai enfrentar Bolsonaro no segundo turno das eleições brasileiras? Caso passe um candidato de centro direita, as chances de Bolsonaro diminuem muito. Caso passe com Bolsonaro um candidato de centro esquerda, Ciro , Marina ou um petista,   por exemplo, a disputa eleitoral ficará menos previsível, com  a diminuição de previsão de tendências possíveis.

Em síntese, a centro direita, teria melhores condições de derrotar Bolsonaro, do que um candidato  de centro esquerda. Este pessimismo em relação às probabilidades de vitórias de um candidato de esquerda ou de centro esquerda, deve-se ao perfil do eleitor mediano brasileiro no contexto da sectarização política que estamos vivendo hoje no Brasil, com ampla vantagem para o pensamento conservador.

 

Tenho dito.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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