Passados mais de cem dias das eleições municipais de 2016, ainda existe muitas dúvidas sobre a decisão eleitoral que o povo de Belém assumiu com a reeleição do prefeito Zenaldo. De acordo com a teoria da escolha racional, o eleitorado da capital deveria ter dado uma “banana” ao gestor incumbente, tendo em vista a péssima imagem que a população revelava, a respeito de Zenaldo, nas pesquisas eleitorais.
Mas para arriscarmos uma explicação em torno do voto em Belém em 2016, com um mínimo de lógica, precisamos tentar entender o por quê desta decisão que renovou o mandato de um gestor da capital, reconhecidamente impopular e detentor de uma péssima avaliação de seu governo entre 2013 e 2016.
Não dá para explicar o voto em Belém sem anexarmos a esta análise o principal desafiante do prefeito tucano e este nome chamava-se Edmilson Rodrigues. Com efeito, parece-me que o elemento mais importante para explicarmos a decisão do voto em Belém em 2016, passa por compreendermos o tamanho da rejeição de Edmilson e da esquerda petista perante os setores medianos da sociedade belenense.
Edmilson nem sempre foi rejeitado pelas classes médias da capital. Em 1996 Edmilson foi eleito com votação expressiva nos bairros centrais da capital paraense. O povo pobre votou maciçamente em Ramiro Bentes, então candidato do prefeito incumbente Hélio Gueiros. Pois bem, decisões administrativas de conteúdo redistributivista, por parte de Edmilson, entre 1997/2000, conduziram ao divórcio entre classes médias e Edmilson em Belém, desde este período.
Com efeito, Edmilson estabeleceu a cobrança de imposto progressivo, onde quem possuía maior patrimônio passou a pagar um IPTU maior e com valores atualizado, gerando grandes tributos as classes médias de Belém. Como esta política foi feita de forma administrativista, sem debate com a sociedade, Edmilson herdou um ódio, das classes médias, que vêm se mantendo persistente, na disputa eleitoral na capital.
Pois bem, aliado a este ódio classista contra Edmilson na capital, um novo ingrediente foi “juntado” a esta receita que pode ajudar a explicar o voto em Belém em 2016: uma conjuntura de absoluto desejo popular em punir o Partido dos Trabalhadores pelos escândalos sucessivos na administração púbica federal, vide os escândalos do Petrolão e a operação lava jato.
Portanto, a explicação para o voto em Belém é multifatorial, com prevalência do preconceito político e ideológico contra o PT e a esquerda e, devido a lembrança do primeiro governo de Edmilson em relação às classes médias dos bairro centrais de nossa capital. Portanto, a decisão do voto em Belém se encaixa em duas escolas teóricas da explicação da decisão do voto: racional e psicológica.
O eleitorado de classe média renegou, majoritariamente o voto em Edmilson devido à imagem de medo auto concebida, de que um governo Edmilson poderia significar novos arrochos tributários, portanto, uma decisão que mistura voto racional e psicológico, por outro lado, o voto popular também se dividiu entre decisão racional e psicológica.
O voto racional se evidenciou quando a metade da população rejeitou, nas urnas, um futuro governo Edmilson e, o voto de cunho psicológico se materializou, quando a população pobre renovou um voto em Zenaldo, devido à rejeição à esquerda petista, votando de forma contrária aos seus próprios interesses. O preconceito ideológico venceu a razão.
Não devemos esquecer que Edmilson realizou dois governos em Belém em nome do PT e, ainda hoje, grande parte da população menos informada ainda vê Edmilson como um petista. Creio que a punição ao PT ainda perdurou nas eleições de 2016, mas creio também, que as políticas anti-populares do governo temer, está levando o povo, a voltar a desejar o PT no poder. Creio que a esquerda petista deverá mostrar boa recuperação eleitoral, já nas eleições de 2018.
Creio também que os tucanos venceram em 2014 e 2016, com base na demonização dos adversários, seja usando o rótulo da incompetência e da corrupção, seja usando um rótulo contra a esquerda socialista. Creio também, que esta tática não terá tanto resultado a partir das eleições de 2018....a racionalidade eleitoral voltará a se mostrar quando o povão identificar as políticas anti-populares com os partidos que comandam o governo temer e seus subsidiários nos estados membros da federação brasileira.
O único problema é que as eleições de 2018, poderão registrar, pela primeira vez, nesta república de 1988, o surgimento de uma direita reacionária, anti-democrática e anti-humana no cenário político brasileiro, com força e com poder de polarização política e ideológica....é ver para crer.
Tenho dito.