Ao observar as análises sobre o futuro imediato do governo Dilma encontro dois tipos de articulistas. Os apoiadores do governo federal dividem-se entre otimistas moderados e otimistas exacerbados. Os críticos do governo federal dividem-se entre pessimistas moderados e exacerbados.

Com o depoimento do governador de São Paulo Geraldo Alckmin vislumbrei um ator oposicionista estratégico. Disse o governador paulista: “não devemos lutar pelo impedimento da presidente baseado tão somente na condução fiscal do governo. Derrubar Dilma por problemas de gestão seria criar incerteza para o futuro de mandatos em todas as esferas do poder executivo no Brasil”, ou seja, prefeitos e governadores poderiam provar do mesmo veneno que estão açodadamente propondo a Dilma.

Este relato serve para compreendermos a presença de uma clara percepção em parte da oposição de que não existe provas materiais que tornem indiscutível a relação da presidente com o escândalo do petrolão. Claro, se a operação  Lava Jato vier a apresentar fatos incontestáveis do ponto de vista jurídico, então a queda de Dilma ficaria inevitável.

Partindo desta constatação inicial, passo a analisar a reforma ministerial. Não há dúvida de que o Brasil está submetido à paralisia decisória desde o rompimento público do presidente da câmara dos deputados com o governo da presidente Dilma. Esta paralisia se constata pelo fato de que a presidente ter perdido o controle de sua base de sustentação parlamentar tendo sofrido seguidas derrotas na agenda de corte de gastos públicos  na busca do reequilíbrio fiscal. A pauta bomba vem ameaçando o governo há semanas.

Com a perda do poder de governo no poder legislativo, a situação do País vem se agravando. A percepção nacional e internacional da incapacidade do governo em aprovar medidas  de controle da economia no congresso, tem deixado investidores nacionais e estrangeiros com o “pé atrás” e tendo como consequência a queda do consumo no comércio com rebatimento direto na produção industrial.

Efetivamente o congresso nacional abandonou a pauta econômica e está totalmente voltado para a crise política. Enquanto a instabilidade política persistir, a agenda econômica estará na geladeira dentro do congresso nacional. A presidente Dilma compreendeu a necessidade de reformular a base de sustentação do governo no congresso nacional, mas o enorme arco de aliança partidária que sustenta o governo tornou difícil a operacionalização desta decisão.

Quem pode abrir mão de espaço ministerial seria o partido da presidente, o PT, mas este resistiu bravamente em abrir mão de seu espaço na esplanada. O PMDB controla a câmara dos deputados e o senado federal e exigiu mais espaço para encarar o “desgaste” de sustentar um governo em véspera de colapso político.

 A grande imprensa nos informa de que 22 deputados do PMDB estão rebelados porque se sentem excluído da participação nos ministérios.  Mas as correntes internas do PT não socorreram a presidente abrindo mão de mais espaços para acomodar esta corrente insatisfeita do PMDB.  Creio que o governo deve estar contabilizando votos no congresso em busca de um número confiável capaz de derrotar a pauta bomba e o impedimento da presidente.

A pergunta que não quer calar: qual o futuro do governo da presidente Dilma? Eu responderia de imediato: é incerto, porque não sabemos em que, nem quando terminará a operação Lava a Jato. Caso  esta operação fosse encerrada hoje, poderíamos dizer que o governo chegaria ao seu final, mesmo que enfraquecido.

Objetivamente, temos pela primeira vez na história recente do Brasil um quadro de divisão da condução do governo brasileiro. Caso fôssemos colocar numa escala de poder de um a cem, eu diria que a presidente hoje, detém 40% do poder de mando e o PMDB e o congresso nacional 60%.

A presidente perdeu o poder discricionário, na prática de nomear e demitir ministros de seu governo. A presidente não pode mais enviar medidas provisórias sem prévio acordo do PMDB e da base aliada. Enfim, temos um governo onde a presidente manda muito pouco. E esta constatação se consagrou no dia 02 de outubro de 2015, quando foi oficializado a reforma ministerial.

Creio que o PT ainda sonha em retomar as rédeas do poder de governar o Brasil. Para atingir estes objetivos teríamos de ter uma série de jogos virtuosos e combinados entre sí em favor do período governamental restante da presidente Dilma. As medidas  de cortes de gastos públicos, de evitar novos gastos, especialmente  sociais e salariais com servidores públicos, teriam de ser evitados.

Claro, todas estas medidas no plano interno teriam de ser articulados com a mudança do quadro da crise internacional que atinge principalmente a Europa, a China e a Rússia. Sabemos que o retorno de um contexto próspero no plano internacional não pode ser resolvido no curto prazo, então o cenário internacional dificilmente irá ajudar a presidente a superar a crise econômica doméstica.

No plano interno, com o agravamento do quadro inflacionário, do desemprego e do arrocho salarial, há de se esperar uma avalanche de greves, ocupações e passeatas em todo o território nacional articulando trabalhadores do setor privado, estatal, camponês e de funcionários públicos estaduais.

Portanto, reafirmo, o quadro de crise econômica no plano nacional e internacional e a situação do setor produtivo, do comércio e da classe trabalhadora, apontam um quadro de incerteza sobre a possibilidade da presidente Dilma vir a assumir o poder quase imperial que lhe é conferido pelo presidencialismo brasileiro.  Somente a operação Lava a Jato poderá retirar a presidente da república de seu cargo.

Tenho dito.

 

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